Rumo ao Alvo (Inicio: Março 2008)

sábado, 14 de junho de 2008

Gula Vs compulsão

Estava aqui a pensar que hoje em dia raramente se assume a pura gulodice. Fala-se em compulsão ou em compensação. Na verdade, o facto de se usar a comida para preencher o vazio, para aliviar a ansiedade, para afogar tristezas e frustrações é muito comum, mas per si, não faz do episódio uma compulsão no verdadeiro sentido do termo. Pode chamar a atenção para as dificuldades emocionais que estão por detrás do uso e abuso da comida, pode mostrar alguma falta de controlo dos impulsos, o passar à acção no lugar do passar à mentalização (coisa bem própria das dependências), mas não se trata automaticamente de uma compulsão. Por outro lado, convinhamos, a maioria de nós, até usa a comida como compensação com frequência, mas há situações em que o que está na mesa connosco não é nem angústia nem ansiedade, é pura gulodice e vontade de comer. A cena do queijo foi gula pura e dura. Adoro queijo e ponto. Foi uma atitude irreflectida e pouco inteligente, já que se tivesse pensado um bocadinho no que estava a fazer tinha percebido que preferia manter uma alimentação saudável e ver os digitos a baixar do que atacar o queijo sem dó nem piedade. Mas comi-o e soube-me muito bem. Soube-me bem porque sempre fui gulosa e queijo sempre foi o meu alimento favorito. Tal como muitas meninas comem chocolate porque são gulosas e adoram chocolate. Às vezes, é preciso chamar as coisas pelos nomes.

O uso e abuso de termos que se referem a condutas automatizadas, que pouco ou nada têm a ver com o paladar dos alimentos (o que importa são os alimentos que no momento estão disponíveis mais que o sabor dos mesmos- até mesmo pela voracidade e rapidez com que são ingeridos), incontroláveis (só pára quando mal-estar não permite continuar), contra-vontade, muito dolorosas e que necessitam de ajuda e acompanhamento profissional, como acontece na compulsão (no real sentido do termo), não será também uma forma (mal) camuflada de nos desresponsabilizarmos? Dizer que tive um episódio compulsivo e devorei o queijo não é bem a mesma coisa que dizer que cedi à gula e devorei o queijo, pois não? Descarregar a ansiedade no queijo (caso estivesse ansiosa) também não significaria necessariamente que não tivesse capacidade para conter o impulso e descarregar (ou numa atitude mais evoluída, resolver) a ansiedade de forma mais construtiva, significaria apenas que tinha seguido o caminho a que me habituei e que me foi mais fácil. Confrontarmo-nos com os nossos próprios sentimentos e dificuldades custa mais.

5 comentários:

Anónimo disse...

Sabe o que acho, sim, algumas vezes é gula. Principalmente quando se trata de algo que gostamos muito. Mas outras não é. Porque tem vezes que "nos sentimos mal" e continuamos comendo. Uma pessoa normal come sem culpa. Eu percebo quando "como" mais porque quis (era algo que queria mesmo, que gosto muito e dane-se o mundo) e quando gostaria de não comer e vou engolindo tudo sem pensar...

Meu psiquiatra disse que tenho que tomar remédios para controlar a compulsão. Eu não tomo para preservar minha capacidade intelectual (dependo dela para sobreviver).

Mas você tem razão quando diz que temos que "encarar" nossas gulas... com toda responsabilidade: tem dias que comemos porque queremos!

Mas será que quando fazemos isso durante um período em que decidimos fazer RA e emagrecer é uma coisa "controlável"? Se não quero mais comer e engordar e continuo fazendo isso, sou responsável? Se isso me faz sofrer, que prazer tenho nisso?

Acho que é o mesmo caso da depressão (para mim era um mito até que a danada me derrubou e quis que eu me matasse, daí acreditei que era mais forte e não uma frescura).

Fico feliz em saber que vc não tem compulsão e vou tomar vergonha na cara e ser mais forte contra a minha (porque acho que dá para tentar controlar sim... e mereço isso).

Adoro vir aqui. Encarei teu post como um puxão de orelhas. Mas adorei. Sou meio masoquista (rssssss) e gosto de você!

Bj

Flávia disse...

Marisa,

Verdade seja dita: 99% das que se denominam compulsivas são na verdade gulosas...vc leu o post que eu escrevi sobre vitimização? Falava justo sobre isso: se tenho compulsão não é minha culpa/ responsabilidade, é uma "doença". Tsc, tsc.
Nunca conheci uma pesssoa com compulsão de verdade...daquelas que comem o que não gostam nas crises...

Beijos

p.s. mesmo tu tendo dito que não preciso agradecer o apoio eu sempre vou fazer isso, por que é importante prá mim e é de coração...

Jojozinha disse...

Marisa, ja te mandei um convite para acederes ao meu blog. dps diz algo.
jojozinha2006@sapo.pt

Ana Bastos disse...

Há grandes diferenças enre gulodice, compulsão..., compensação, gula.... etxetcetc
Seja o que que for em qualquer uma delas come-e muito ;) o que é ruim...
também adoooooro queijos, uiiii...
Vamos lá pensar antes de comer ;)

bjinhuxxx
Boa semana!

Anónimo disse...

Saudades de você! Gosto de vir aqui até para levar puxão de orelha (rsss).

Responsabilidade é tudo, seja para gulosas ou para compulsivas (afinal, se tem problema tem é que tratar, não é mesmo!).

Bjs